Testemunho

“Há poucas oportunidades para recém formados”, diz Fei Manheche, engenheiro eléctrico e programador

Fei Manheche formou-se em Engenharia Eléctrica e Electrotecnia no Reino Unido. Fundou, em 2013, a maior comunidade de desenvolvedores em Moçambique – MozDevz – e desde então tem actuado no domínio das tecnologias de informação e comunicação.

Fale do seu percurso académico e profissional e do sector em que trabalha actualmente.

Fiz o ensino secundário no Colégio Arco-Íris, em Maputo, e em seguida, com muito apoio dos meus pais, fui estudar Engenharia Eléctrica e Electrotecnia, no Reino Unido. Sempre tive uma inclinação e paixão pela programação e tecnologias de comunicação, tanto que a minha primeira opção para a faculdade foi Engenharia Informática, mas por sugestão de familiares e outros a opção alternativa foi muito boa. Com o curso na mão, e ainda no Reino Unido, decidi acoplar o meu curso com a minha paixão de programação, tendo, após dois anos de carreira, estado em uma posição de desenvolver soluções de Internet das Coisas (IoT) e aplicativos para Start-ups e outras empresas em Londres. Decidi regressar a casa para contribuir para a minha sociedade e enfrentei grandes dificuldades em continuar a exercer funções no ramo de TIC.  Aceitei, então, uma proposta de trabalho para uma empresa ligada ao sector de Oil and Gas, como Engenheiro de Instrumentação e Sistemas.

Como é que conseguiu o seu primeiro trabalho?

Com o curso de Engenharia concluído, consegui o meu primeiro trabalho em Moçambique, através de referências. Amigos e familiares informaram-me do facto de uma empresa estar a recrutar alguém com o meu perfil, enviei o meu CV e após o processo selectivo, fui contratado pela organização.      

Em que é que consiste o seu dia-a-dia de trabalho?

Resumidamente, a minha actividade profissional, como Engenheiro de Instrumentação e Sistemas, consiste em: análise de requisitos do cliente, estudo do site do cliente, determinação e elaboração de especificações de instrumentos e cabos a ser implantados, elaboração, emissão e análise de propostas técnicas de fornecedores, apoio na fase de construção e produção de documentação As-Built .

O que diz das suas expectativas como estudante e aquilo que encontrou no mercado de trabalho?

Infelizmente há poucas oportunidades no nosso mercado para recém formados. Gostaria de estar ligado a um outro ramo profissional, isto é, mais ligado às TIC, mas a realidade é que empregadores no ramo exigem, na sua maioria, pessoas com anos de experiência. Como consequência encontro-me num ramo profissional que aceita profissionais no princípio das suas carreiras.

Pode recordar um momento desafiante no seu percurso profissional?

No ramo das TIC, onde tenho sido proactivo na criação de uma carreira profissional, no horário pós-laboral, um dos maiores desafios encarado diz respeito à seriedade dos clientes, sendo que existe uma grande lacuna na confiança.

Quais são os maiores conseguimentos na sua carreira?

Os maiores conseguimentos na minha carreira até ao presente, no ramo das TIC foram: ter sido convidado a participar como orador em diversos eventos célebres, tais como Droidcon London, Campus Party 2013, ter desenvolvido aplicativos que chegaram ao mercado e ter contribuído na fundação da MozDevz.

Qual é a sua visão para o futuro do sector onde trabalha?

No ramo das TIC, tenho uma visão para um futuro onde haja reconhecimento de desenvolvedores, makers e empreendedores em Moçambique, sendo um domínio onde poderei exercer uma função em linha com a minha verdadeira paixão.

Que características considera fundamentais para um profissional na sua área?

No ramo das TIC, as características fundamentais para um profissional incluem: proactividade, persistência, perseverança e conhecimentos técnicos diversificados, com capacidade de assimilar e aprender tecnologias emergentes. Quanto ao ramo de Engenharia de Instrumentação e Sistemas, as características incluem: a capacidade de gestão de tarefas, a capacidade de pensar fora da caixa, enquadrar-se num projecto em que não se tenha estado fisicamente no local de implantação e a capacidade de analisar e calcular os diversos aspectos técnicos.

Que características considera fundamentais para qualquer profissional ou candidato?

Qualquer profissional em Moçambique deve ser capaz de adaptar-se e aceitar moldar o seu ramo profissional às exigências do mercado.  E uma segunda característica inclui estar constantemente a aprender, quando há novas metodologias, e  ser interdisciplinar.

Que recomendações daria a um jovem estudante, que suscitassem nele o interesse pela sua área?

A um jovem estudante, eu recomendaria a não ter uma mentalidade de sair da faculdade para ser empregado limitado à sua área de formação. Na minha área de trabalho, tanto como Engenheiro assim como nas TIC, existem sempre novos desafios e actividades para manter-nos motivados. Uma das maiores vantagens do meu ramo de trabalho é o resultado final, seja ele um aplicativo novo que posso referenciar aos meus amigos e familiares ou um projecto de tanque em que estive envolvido, há sempre um sentimento de satisfação.